sexta-feira, novembro 25, 2005

A·mar·go

Uma sílaba a menos e era amar. Mas ela está lá, a peça a mais que o torna a·mar·go. Pode ser alguém, pode ser um nada, pode ser um tudo a mais que torna amar a·mar·go. Áspero, cruel no paladar, doloroso nos sentidos. A·mar·go é perder a doçura do teu olhar, ganhar uma ferida na alma que custa a sarar. Sinto ainda o sabor adivinhado dos teus lábios, mas ao contrário do sonho, é a·mar·go.

terça-feira, novembro 22, 2005

Po·ço

Queria atirar-me a um po·ço para te buscar nas águas em que te perdi. Queria afundar-me no lodo em que te escondes de mim. Nesse po·ço que criaste, em que finges não sentir sequer as ondas provocadas pelos meus apelos. Fechaste-te num po·ço e eu já não tenho palavras que te tragam à superfície.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Se·de

Tenho se·de. Não de água, nem de vinho, nada me mata a se·de das tuas palavras. Secou a fonte, ou tê-la-ei esgotado eu de tanta ânsia de te sentir nelas. Quando se tem se·de não se consegue pensar, e queremos beber tudo de uma vez. Leio-te, às vezes, mas esta se·de não se mata à distância. Seco de se·de de falta de ti.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Des·gos·to

Des·gos·to não é não gostar. Nem não ter gosto. Des·gos·to é perder o gosto. A contragosto. Des·gos·to é gostar sem ter. Perder o prazer que nos dava gostar. Gostava de ainda gostar, mas agora desgostas-me. Tornaste-te um des·gos·to.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Sus·sur·ro

Quase um silêncio. Com palavras sussurradas, quase caladas. Mas ditas, ao ouvido. De perto. Um sus·sur·ro ouve-se e sente-se, cá dentro e na pele. Quente. Um sus·sur·ro que nos roça a pele do pescoço. Que toca no lóbulo, ao de leve. Às vezes, sussurramos um silêncio, só para nos sentirmos. Juntos. Sussurras-me e eu finjo não ouvir para que o faças de novo. Sussurra. Mais perto. Mais dentro. Mesmo que o teu sus·sur·ro seja mudo.

terça-feira, novembro 01, 2005

Mar

Uma sílaba. Mar. Três letras só e é tanto mar. Azul ou negro. O luar no mar. O rasto de luz nas noites de Verão. A estrada de espuma atrás do navio. Navegar. No mar. Um veleiro. As velas que nos levam onde queremos estar. O teu olhar quando mergulhas comigo. No mar. As ondas que acompanham os nossos corpos. Salgados. Um dia, teremos o mar só para nós.
para o R

domingo, outubro 30, 2005

So·no

So·no. Sonho. Dormir e sonhar. Sonhar acordado, sem so·no. Despertar do so·no, alienar o sonho. O so·no só deixa ver o sonho, não o deixa realizar. Tenho so·no, mas não quero adormecer. Dormir é ignorar.

Se·gre·do

Se·gre·do. Escondido, calado, um se·gre·do. Mudo, acumulado, entranhado. Não partilhado. Se·gre·do. Medo de dizer o que queremos gritar. E então dói, porque nos consome não poder partilhar. O se·gre·do.

Si·lên·cio

Si·lên·cio. Sssssssh.

sexta-feira, outubro 28, 2005

A·bra·ço

Um a·bra·ço são dois braços, e mais dois, e dois corpos enlaçados. Um a·bra·ço é um laço de gente que sente e se sente. Um a·bra·ço é um nó e um nós enlaçados. Um a·bra·ço é calor contra o frio do silêncio. Um a·bra·ço dá vida e mata a dor. A·bra·ça-me. Enlaça-me. Enlaço-te. A·bra·ço-te. Criemos um laço.

Li·mão

Li·mão é amarelo, é sumo, é Verão e a rodela no copo de água com gás. Li·mão é rugoso e encerado, Li·mão é amargo porque não é la·ran·ja e é amarelo. Li·mão até podia ser uma lima grande, mas não é porque a lima é verde e mais amarga ainda. Uma limonada com açúcar na esplanada à sombra do chapéu-de-sol. Amarelo. Não verde, porque limonada é cor de sumo de li·mão. E as esplanadas querem-se frescas.